Laboratórios de inovação não vão transformar sua empresa

Para a futurista Jaqueline Weigel, projetos brasileiros ainda são experimentais e carecem de visão de longo prazo.

“Quem empurra a economia são os cavalos de raça, não os unicórnios”. Quem garante é a futurista Jaqueline Weigel, para quem a maioria das empresas brasileiras, mesmo as startups mais destacadas, praticam inovação de forma incremental. E, apesar de as iniciativas serem importantes, há pouco preparo para um futuro a longo prazo. “Os ecossistemas de inovação viraram status quo, está todo mundo fazendo a mesma coisa.”

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A especialista é fundadora e CEO da W Futurismo, um hub sobre estudos do futuro, ou foresight, que oferece qualificação para empresas, instituições, governos e profissionais com o objetivo de auxiliar na formulação de estratégias de longo prazo em meio a transformação digital. Ela é membro de grupos de estudos de futuros internacionais, inclusive associados às Nações Unidas, e no Brasil atua como palestrante e mentora de organizações.

Nesta entrevista exclusiva, Jaqueline comenta que as iniciativas de inovação das empresas brasileiras ainda estão muito calcadas nos laboratórios de inovação, considerados reativos pela especialista. Leia na íntegra:

1 - O que você entende como laboratórios de inovação e qual o gargalo deles?

Jaqueline Weigel: Nos últimos dois ou três anos começamos a ter estímulos de grandes mudanças, e a forma que o mercado achou de reagir foi priorizar o curto prazo, ver o que precisava fazer e quais eram as dores imediatas. Os laboratórios de inovação são essa reação imediata a uma nova demanda do mercado. Eles estão ainda no viés incremental, ou seja, têm como objetivo dar uma “arrumadinha” ou manter o que já existe. As empresas foram procurando caminhos para lidar com as mudanças que se apresentaram. Não há certo e errado, mas vejo os laboratórios de inovação como incrementais, não como uma transformação digital real.

2 - E quais são os motivos dessa visão?

Jaqueline Weigel: Hoje as cabeças estão mais preocupadas em manter o que existe e incrementar um pouquinho. Os ecossistemas de inovação viraram status quo, está todo mundo fazendo a mesma coisa. O mercado brasileiro não se antecipa. Temos disrupção por acidente e ótimas ideias que não encontram apoio. A inovação está sendo feito de forma desorganizada e nada estratégica.

3 - Mas a inovação incremental também não é importante?

Jaqueline Weigel: É um movimento relevante para as empresas, pois não dá para ir de um modelo a outro de repente. Mas inovação incremental é o que as empresas sempre fizeram, talvez não com tanta dedicação. Sim, é fundamental que todas estejam envolvidas e passem a fazer disso o seu dia a dia. Por esse ângulo é bacana. Mas o que a maioria ainda não compreendeu é que só responder ao mercado é sobrevida, definitivamente não é mais o negócio da próxima década. É preciso fazer a manutenção, a inovação e a preparação para a transformação digital ao mesmo tempo.

4 - E como conciliar tudo isso?

Jaqueline Weigel: A receita existe, mas sem pensamento sistêmico, sem boas estratégias, nenhuma ferramenta será útil. A metodologia que usamos está começando a ser aplicada em empresas. Visitamos o passado para detectar padrões, mas temos que pensar no presente e no futuro de longo prazo para criar estratégias. Isso é o foresight, ou estudos de futuro.

5 - E o que as organizações podem depreender dos estudos de futuro?

Jaqueline Weigel: Que é preciso ter uma visão ampliada de futuros que integrem todas as iniciativas de inovação. A inovação não é a estratégia transformacional. Quando se digitaliza, se coloca um novo negócio dentro do negócio que já existe. Olhando de forma estruturada todos os finais que já temos [previstos], a organização mesmo conclui que o negócio não vai existir em dez ou 20 anos. É preciso criar iniciativas diferentes. Não adianta comprar outros negócios e startups. Não dá para transformar nada fazendo “pequenas adaptações”. Precisamos de estrategistas de futuros, não núcleos de inovação.

6 - Vocês têm casos de sucesso públicos na W Futurismo?

Jaqueline Weigel: O [número de cases é o] mesmo número de pessoas morando em Marte. [risos] Não posso falar de empresas ainda, mas temos cinco de tamanhos médio e grande começando a usar a perspectiva e que vão ser cases no ano que vem. Ainda não temos cases bem feitos no Brasil, como o da Shell global, porque o País não conhece a metodologia. Temos muitos cases de inovação às cegas, enlatada, maquiada, e muita gente trabalhando inovação como ferramenta de transformação dos negócios, mas sem respostas de longo prazo. A curto prazo há muitas acertando, mas sem olhar para o longo prazo tudo isso cai no abismo. E quem empurra a economia são os cavalos de raça, não os unicórnios.

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