A missão pessoal de Ximena Alemán no mundo das fintechs

Apontada como uma das “disruptoras de 2020” pelo portal iupana — especializado em notícias sobre tecnologias para o mercado financeiro —, a empresária Ximena Alemán nos conta como a jornada de dados está promovendo a inclusão financeira de uma população antes ignorada.

“Empreender é um processo de aprendizagem brutal: aprende-se sobre os negócios, o setor, a empresa e sobre si mesmo. Nesse caminho, você muda muito”, diz Ximena Alemán, empresária uruguaia que, nos últimos cinco anos, tem se destacado no mercado latino-americano de fintechs.

Ximena Alemán

Ximena é CBDO (Chief Business Developer Officer) da Prometeo, uma das pioneiras em open banking no continente, empresa que oferece uma plataforma que facilita, organiza e dá segurança ao trânsito de dados financeiros, além de permitir o monitoramento integrado e estratégico dessas informações. A Prometeo está presente em nove países da América Latina.

 

A atuação de Ximena na empresa lhe rendeu a inclusão na lista “Disruptoras 2020” do portal iupana, especializado em notícias de finanças. Para os curadores da lista, a uruguaia é uma das “mulheres mais inovadoras em finanças e serviços bancários” da região. Com duas graduações (Contabilidade e Gestão Empresarial e também Jornalismo), ela viveu trajetórias separadas em cada uma das áreas que estudou, até que, como empresária, viu materializar-se a união de seus conhecimentos.

Infraestrutura para a inteligência

“Há fintechs que fazem uso pleno do modelo de dados e outras não. Vejo da seguinte forma: a Prometeo é uma ‘estrada’ que oferece serviços de infraestrutura tecnológica para o setor financeiro, e há outras empresas que trabalham na mesma estrada. Então, é como se estivéssemos pavimentando juntos, e esse pavimento é o que nos permite ter a variedade de fintechs que temos hoje.

Existem carências tecnológicas e, felizmente, há uma onda de fintechs de infraestrutura que trata de solucionar os problemas tecnológicos desse segmento. Então, há, sim, instituições que não têm ainda os recursos para fazer bom uso de dados e oferecer os melhores serviços financeiros. Mas essa é a base do open banking: que os serviços financeiros possam acessar os dados que o usuário já informou e, então, adaptar seu serviço e produto a cada usuário de sua base.”

Proteção X Inovação

“O mercado mudou bastante e acho que o processo de evolução das fintechs está bastante facilitado. Há cinco anos, quando o setor realmente decolou na América Latina, havia uma competição de bancos contra fintechs. Ela ainda existe, mas hoje é pequena.

Hoje em dia, na América Latina, as fintechs estão investindo justamente nos usuários não-bancarizados. Há empresas pequenas e médias que não têm acesso a crédito, um número enorme de pessoas que não têm conta em bancos ou está sub-bancarizada. As cifras de financiamento ao setor são vultosas, justamente pela capacidade de atender essa demanda. Por isso, o setor tem crescido tanto (nota: para exemplificar, o número de empresas no setor aumentou 14% no México, 16% no Peru, e 34% no Brasil, segundo instituições locais). “

Sem medo de pivotar

“Prometeo é nosso terceiro pivot [no universo de startups, ‘pivotar’, ou ‘pivotear’, em espanhol, diz respeito a decidir qual rumo a atuação da empresa vai tomar, muitas vezes transformando seu propósito original]. Nossa primeira ideia era criar uma ‘carteira eletrônica’ com foco no setor de distribuição em Montevidéu, mas novas regras, muito complexas, estabelecidas pelo Banco Central do Uruguai, inviabilizaram a TePago.

Pivotamos para uma tecnologia de PFM [Personal Finance Manager, ou gerente de finanças pessoais]. Inspirados na brasileira GuiaBolso, criamos a Ábaco. Estudamos bastante o setor, e constatamos que a maior parte dos pequenos empresários na América Latina usa uma única conta bancária para suas finanças pessoais e para a empresa. Queríamos gerar funcionalidades que permitissem a esse microempresário compreender melhor sua conta bancária, mas foi difícil monetizar o negócio.

Porém, em paralelo, estávamos tendo muitas reuniões com outras fintechs e com instituições financeiras tradicionais e nos chamava atenção a possibilidade que tínhamos de acessar informações bancárias e repassá-las ao usuário de forma processada — isto é, padronizada, categorizada. Podíamos usar essa informação para oferecer um serviço a partir dela.

A resposta foi muito boa. Ao mesmo tempo, o open banking já estava regulado na Europa e começou a ter mais visibilidade. Em 2018, foi liberado no México também. Pensamos, então, em criar uma plataforma de apps padronizada e oferecê-la às fintechs como um produto em si mesmo. Logo, conseguimos alguns clientes na Colômbia e esse foi o kickoff da Prometeo.”

Presença feminina

“Há mais mulheres empreendendo nas fintechs. Eu pessoalmente tenho minha hipótese: as corporações oferecem menos facilidades em termos de desenvolvimento e flexibilidade para que as mulheres ascendam em suas carreiras. Isso se torna um incentivo natural para empreender fora do campo corporativo. Parece-me razoável que as fintechs sejam um dos setores mais atrativos. Há muitas mulheres com formação em marketing, com habilidades complementares às dos cofundadores masculinos, mais técnicos: é um match natural.

Além disso, as fintechs unem duas heranças tradicionalmente masculinas: a bancária e a tecnológica. Mas o mindset tecnológico é mais progressista e afeito à diversidade. Ainda assim, poderia haver ainda mais mulheres nesse universo. Por exemplo, nas fintechs lideradas por mulheres, as cifras aportadas por investidores são 50% menores em relação àquelas lideradas por homens [segundo informações da Deloitte]. Quando uma mulher faz um pitch, ela tem três vezes menos chance de receber investimentos que um homem.”

Sem palavras não há números

“Durante muito tempo pensei que nunca mais faria algo vinculado a números. Trabalhei em veículos de comunicação, fundei uma agência de conteúdo e, de repente, a vida me levou para outro lado. Empreender em fintechs foi uma decisão intuitiva e a bagagem em comunicação foi fundamental. Todos os financiamentos que conseguimos em nosso início vieram das palavras. O que os investidores enxergaram era o que dizíamos. Nas etapas iniciais de uma empresa, o trabalho é basicamente comunicar.”

Orange Business Services

Divisão do Grupo Orange dedicada ao universo B2B, a Orange Business é um fornecedor global de serviços de TI e comunicações, posicionado estrategicamente para permitir que a transformação digital ocorra de forma fluida, garantindo o maior ganho possível para seus clientes, independentemente dos setores nos quais operem.