CDO x Líder de RH: o trabalho híbrido exige — e oferece — mais do que você está pensando

Alternar o trabalho presencial e remoto é uma prática cada vez mais adotada pelas empresas, mas esse modelo vai muito além da troca de ambientes de trabalho. Para garantir seu sucesso, bem como a saúde dos colaboradores, é preciso que as gestões de tecnologia e de recursos humanos atuem em conjunto.

O tempo em que RH e TI se viam como áreas distantes, quase opostas, pertence ao passado. Ou, ao menos, deveria pertencer, porque a adoção cada vez maior do digital workplace para o trabalho remoto rompeu os limites entre relações humanas e tecnologia nas empresas - um reflexo, aliás, do próprio modo como as pessoas se relacionam socialmente há alguns anos. Porém, trabalhar parte do tempo à distância e outra parte no escritório exige ferramentas de colaboração adequadas, bem como uma gestão inteligente de pessoas. Como esses dois mundos podem se aproximar? Convidamos dois especialistas para responder a essa questão.

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Jenny Toro Sanchez é colombiana, coach e diretora de Recursos Humanos do cluster andino do Groupe SEB Andean, que concentra mais de 30 marcas de eletrodomésticos no mundo todo. Há 20 anos atuando em RH, tem ocupado cargos de gestão desde 2011.

Jeison Costa é CDO da DL Digital Learning e sócio-fundador da Doki Doki, uma confeitaria com venda 100% online e gestão digital. Nascido no Brasil, Costa atua na área de tecnologia há quase 25 anos, e nos últimos 13, tem ocupado cargos executivos na TI de grandes empresas no Chile, sempre liderando projetos de transformação digital.

Orange Business: A pandemia fez do modelo híbrido de trabalho uma tendência ou uma necessidade?

Jeison Costa: Ambos, acredito. A pandemia acelerou uma tendência que já vinha crescendo principalmente nas empresas digitais e globalizadas. Atualmente, é normal contratar habilidades e perfis tecnológicos que estão em países diferentes, e isso gera uma tendência automática de trabalhar online e com ferramentas de colaboração. As empresas viram essa forma de trabalho não somente como algo viável no atual cenário, mas também como uma maneira de potencializar a qualidade de vida dos empregados. Viu, ainda, uma excelente forma de gerar economia com os custos de aluguel e infraestrutura física.

Orange Business: Qual é o maior desafio de gestão desse modelo, a tecnologia ou a gestão de pessoas?

Jenny Toro Sanchez: A gestão de pessoas, sem dúvida. Ela é ainda mais complexa quando se tornam latentes as desigualdades entre os colaboradores, e elas são muitas. Nem todas as gerações têm a mesma familiaridade com as ferramentas tecnológicas necessárias para o teletrabalho. A flexibilidade para trabalhar em casa também varia, com pessoas que não conseguem ter um escritório físico no lar com separação efetiva entre trabalho e atividades domésticas. É preciso, ainda, desafiar os paradigmas de produtividade que correlacionam presença e produtividade, e ter líderes que acompanhem seus times de maneira integral mesmo distantes. É um trabalho de desenvolvimento de competências tanto “soft”, quanto “hard”.

Orange Business: Quais são os limites que empresa e colaborador devem estabelecer para si uma vez que esse modelo é adotado?

Jenny Toro Sanchez: A pandemia nos deixou hiperconectados e é preciso respeitar o equilíbrio entre vida pessoal e trabalho. Deve haver uma cultura de confiança na qual prevaleça o cumprimento dos objetivos e os resultados. Há atitudes que são imprescindíveis: não programar reuniões nos horários de almoço, não convocar pessoas que não estejam diretamente envolvidas no propósito da reunião, priorizar as entregas esperadas, preferir conversas “One2one” para esclarecer ou resolver conflitos em vez de escrever muitos e-mails sobre um mesmo tema com várias pessoas copiadas.

Jeison Costa: Ter um "personal ownership" é fundamental. Cada pessoa deve ser responsável por gerar limites de horários de trabalho respeitando a vida familiar e suas próprias necessidades. Por outro lado, também é responsabilidade da empresa cuidar de seus colaboradores, definindo políticas que respeitem o horário e individualidade de cada um. Não é porque trabalhamos em casa que devemos entrar em reuniões a qualquer hora.

Orange Business: Quais são os piores erros que um líder pode cometer na gestão de uma equipe híbrida?

Jeison Costa: O principal erro é pensar e atuar como se os colaboradores estivessem disponíveis 24x7. Nesses meses de pandemia aqui no Chile, estivemos seis meses completamente proibidos de sair de nossas casas, a não ser para urgências médico-hospitalares, mesmo assim, somente com um salvo-conduto emitido pela polícia. Nesse período, o país enfrentou uma chuva de atestados médicos por estresse causado por sobrecarga de trabalho. Foi superdifícil de respeitar horários simples, como o começo do expediente ou o almoço.

Jenny Toro Sanchez: Ao meu ver, os piores erros são de dois tipos: por excesso ou por falha. Dou um exemplo: um grande erro é exercer um controle excessivo sobre o tempo dos profissionais, delegando muitas tarefas e demandando muito tempo deles em reuniões, projetos e e-mails, o que pode levá-los ao burnout. Por outro lado, falhas de comunicação ou de acompanhamento podem levar a equipe a perder a visão, o propósito do que faz e a conexão com este propósito.

Orange Business: Quais indicadores mostram que essa equipe híbrida obteve sucesso?

Jenny Toro Sanchez: Vão variar de acordo com a empresa, mas os indicadores-chave precisam ser aqueles que passam por questões como crescimento do negócio e melhora do clima laboral, principalmente.

Jeison Costa: Não acho que precisemos de nada muito inovador, basta usar bem os indicadores já existentes. De qualquer modo, é uma questão de, como eu disse, sentar com Recursos Humanos e desenhar juntos uma forma de avaliar o desempenho de cada colaborador para esse novo modelo de trabalho.

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